Extremismo
Aqui há tempos deu-se o arrastão de Carcavelos que não foi arrastão, e houveram assaltos nos comboios em que ninguém roubou nada.
Passados uns dias, deu-se a manifestação de extrema-direita, que não era racista, e que apelava ao “orgulho branco”, com brancos que não são racistas, e que propunham a expulsão de imigrantes africanos, não sendo por isso, racistas…
Bom, como resolver este problema? De um lado um bando de 500 “Dreads” não violentos a perturbar a paz do país à beira-mar plantado. Do outro 500 Skinheads não racistas que põem em causa os “brandos costumes”.
Já repararam? Pelo menos existe justiça nos números. 500 De um lado e 500 do outro.
Vamos lá então encontrar uma solução para isto.
Antes de mais tem de haver terreno neutro.
Pensei em propor um comboio. Daquelas automotoras velhas que já não servem para nada, senão para a poluição sonora e do ar.
Consta que o objectivo de manter as ditas automotoras seria fazer transbordo com os passageiros do TGV espanhol. Assim eles teriam pena de nós e não nos cortavam a água.
Como os espanhóis não têm pena de ninguém, muito menos de nós, esta ideia foi abandonada.
As automotoras ficaram de novo sem uso prático à vista, e podia usar uma delas, com Dreads e Skins, a divertirem-se entre si à mocada.
O problema seria o custo de construir uma linha a acabar no Cabo da Roca. E isso seria indispensável, não fossem haver sobras.
Como estamos em contenção de custos, obriguei-me a abortar este projecto. E ainda bem porque de facto não era neutro. Os Dreads têm meses ou anos de treino nos comboios das linhas de Sintra e de Cascais. Os Skins também gostam de comboios, principalmente da – para eles – saudosa linha internacional entre Berlim e Auschwitz, mas não é a mesma coisa.
Então pensei: os Dreads gostam de praia - areia e espaços grandes – os Skins, a ver pela manifestação ter sido marcada para o Martim Moniz e o Rossio, gostam de espaços planos, sem sombra, e também com muito espaço.
O que é que há que tenha espaço, areia, plano e sem sombra?
Lembrei-me do Campo Pequeno, pois claro!
O Campo Pequeno, ainda por cima, tem um problema que poderia ficar resolvido. O da recuperação do espaço.
Abria-se o espectáculo ao público e cobravam-se bilhetes. Garantida a enchente, o lucro de bilheteira daria para a recuperação total do Campo Pequeno.
Mas, para garantir a enchente precisamos de algo mais, ou então o espectáculo seria igual a tantos fins de Porto X Benfica.
Para isso, poderíamos arranjar o patrocínio do Jardim Zoológico de Lisboa, que cedia uns quantos Leões, e Elefantes para o grande final.
Ambas as equipas teriam um padrinho famoso.
Do lado dos Dreads aparecia a Ana Drago, e do lado dos Skins o Manuel Monteiro. Ainda pensei em convidar alguém do PNR para padrinho dos Skins, mas todo o partido já faz parte da equipa… também são só 8 ou 9 elementos.
Ainda tínhamos a possibilidade de 10% de desconto na funerária do Campo Grande.
Propus este projecto, mas não foi possível realizá-lo por várias razões, das quais destaco as seguintes:
Do Bloco de Esquerda, disseram que não era possível porque a organização não previa que os Skins levassem telemóvel ou toalhas de praia, que são objectos que motivam os Dreads.
Depois a Ana Drago não está autorizada a estar presente, por não poder estar com mais de dois africanos de raça negra a menos de 10 metros, por ordens médicas.
O PNR diz que tal não seria possível, porque alguns dos seus elementos estão proibidos pelo partido de estarem em ambientes em que mais de 25% da população seja do sexo masculino, desde que alguns filiados foram beber um copo ao Portas Largas e acabaram no Finalmente na companhia da Carla Vanessa, que foi pára-quedista no ultramar, e que é conhecida pelo Zé trombas, por alguns amigos de infância.
A associação de defesa dos animais manifestou-se desagradada porque os leões podiam ser mordidos. Quanto aos elefantes, uma vez que viriam do jardim zoológico, desatavam a roubar moedas a todos. Este caso não seria preocupante, porque, segundo o Bloco de Esquerda, como vieram de África e estão presos, têm esse direito e ninguém os podia criticar porque a culpa é da direita.
O Carlos Castro reclamou o facto de todos eles terem de ir vestidos.
A ONU também se opôs à realização deste evento porque segundo notícias da imprensa nem os Dreads roubam nem os Skins são racistas e, afinal, Dreads que não roubam a ninguém, e Skins que não são racistas, são espécies protegidas, e únicas no mundo.
(…)
Bom, o projecto falhou e o Campo Pequeno vai mesmo ser um centro comercial.
De qualquer forma, irei apresentar uma nova proposta, assim que o centro comercial abrir.
Concentrar os Dreads no centro comercial é fácil. Basta pôr um Mcdonalds e esperar. Os Skins, será mais complicado, mas podemos sempre fazer uma exposição de fatos do KLU KLUX KLAM, com pinturas da Paula Rego e enviar convites para a sede do PNR.
Aquilo fica tudo partido porque mesmo sendo no centro comercial, eu insisto, pelo menos, em levar os elefantes. E se pensarmos bem, para que é que é preciso mais um centro comercial?