o IEFP e a Estratégia de Nuremberga
Faz mais de 60 anos que, em Nuremberga, foram julgados os corpos dirigentes do partido Nazi. Os que sobreviveram aos ataques dos aliados e das tropas russas, e que não se suicidaram, foram presentes ao tribunal penal internacional, naquela cidade da Alemanha.
Se formos pela questão judicial, o objectivo deste tribunal foi determinar os culpados e aplicar as devidas sanções, por crimes de guerra durante a administração liderada pelo III Reich.
Na questão política/militar tratou-se da aplicação de sanções por parte dos Estados vencedores da II guerra mundial, aos principais derrotados, os alemães.
Na questão prática, o que se passou foi responder à pergunta: “e agora, o que é que fazemos com estes gajos?”
Alguns, ainda antes do julgamento, foram reconstruir o tribunal mas, e depois disso. O que fazer com eles?
Tudo isto passou nos últimos dias na televisão pública portuguesa. Milhares de pessoas assistiram. Milhares não. Centenas, porque deu na 2. Ou terão sido apenas dezenas?... Enfim... alguém viu!
Nunca ouviu falar deste canal? Aquele que ainda faz algum serviço público de televisão... não sabe qual é?
Tente carregar na tecla 2 do comando.
O quê? Aparece o Manuel Luís Goucha?
Isso é porque a sua televisão está configurada dessa forma.
Quando “clica” no 2 aparece o canal da vida animal, daí o facto de aparecer um Urso!
Não se preocupe. Telefone à Rita, à Joana ou à Teresinha que elas vão aí resolver o assunto. Se não resolverem (até porque estas é mais internet) chame a menina do gás. Pode não perceber patavina de TV Cabo mas também, para que é que quer a televisão na altura?
Não é uma pessoa dada a gajas?
Quer um abraço ou um beijinho? Chame o António!
Não tem TV Cabo? Se não tem TV Cabo e não conhece a 2, então, não veja televisão!
Voltando ao documentário.
Ora é precisamente aqui que surge a “estratégia de Nuremberga”. Houve alguém com responsabilidades no Instituto de Emprego e Formação Profissional que, após ver a correspondência do sindicato e a novela da TVI, fez zapping e foi (por acidente) parar ao tal canal público. Faltaram as pilhas ao comando e não conseguiu mudar de canal. A hipótese era levantar o cú do sofá e isso, para um funcionário público, pode ser mortal!
Deixou-se estar a ver o documentário, que passava na altura e de repente reparou que, na prática, a pergunta que lá se fazia: “e agora, o que é que fazemos com estes gajos?”, é a pergunta que tantas vezes ele e os colegas fazem no IEFP com os milhares de desempregados que por lá aparecem.
É aí que o dito senhor do IEFP e telespectador acidental do tal canal 2 pensa em criar uma estratégia – A estratégia de Nuremberga – para resolver os problemas do IEFP.
O funcionário do IEFP faria perguntas com ar arrogante de quem ganhou a guerra (neste caso, a guerra da vida e de um emprego estável), e os que lá se deslocam, ou mostram “respeitinho” e vão colaborando da melhor forma, ou sabem que vão parar à forca (que neste caso é não ter emprego e ficar sem subsídio).
Só então repara que é tarde demais. O IEFP já trata as pessoas como se estivessem num tribunal penal internacional.
E agora, com a impossibilidade de recusar o que lhes for oferecido, a relação será ainda mais igual a Nuremberga.
Ou mostram “respeitinho” pelos doutos senhores, OU SERÃO MANDADOS, SEM PIEDADE, PARA A FORCA!!!
Está bem que os desempregados portugueses não mataram Judeus em massa. Talvez tenha havido um caso ou outro de um português ter matado um Judeu com “massa”... mas isso é diferente. É difícil achar um Judeu sem “massa”.
Contudo, frente aos leais servos do IEFP, os desempregados não passam de um bando de criminosos que não querem trabalhar e que, por isso, prejudicam o país ao receberem pequenas fortunas de subsídio de desemprego. Depois não há dinheiro. “DEPOIS AS CULPAS VÃO PARA NÓS... fieis sevos do aparelho de Estado. Depois, somos nós, funcionários públicos, que recebemos as culpas do excessivamente exigente povo português.”
“Desempregados... PARA A FORCA JÁ!!!”
“GREVE! JÁ! AUMENTOS PARA A FUNÇÃO PÚBLICA JÁ!!!...”
Gritou o senhor telespectador!
A ideia do IEFP ser o nosso Nuremberga é bem recebida e aceite por todos os partidos políticos. Claro que, como sempre, cada um teria adaptações a fazer se lhes fosse possível meter a pata!
O CDS defenderia que, o desempregado deveria poder recusar os dois primeiros trabalhos se completasse os seguintes pontos: fosse votar contra a liberalização do aborto; provasse que na primeira oferta o patrão lhe batia sem razão aparente; se fosse à missa da igreja católica todos os Domingos; entrasse no Lux, sem pagar.
O PSD acharia que, o desempregado deveria poder recusar duas vezes, e não tinha tantas exigências. Bastava que o desempregado confirmasse que iria votar no Marques Mendes nas próximas eleições. Logo após esta ideia ter sido testada (com perguntas a 10.000 desempregados) foi posta de lado. Apenas um respondeu que aceitava o acordo de votar no Marques Mendes. Foi ainda confirmado que esse desempregado se chama José Veiga e, para além de poder recusar as ofertas de trabalho, pediu imunidade diplomática internacional.
O PSD acedeu mas depois lembrou-se que não poderia conceder a tal imunidade diplomática internacional porque, quem arranjava “essa cena” era o Valentim e o Isaltino e esses já “não tocam na banda”.
José Veiga, entretanto, mudou-se para Felgueiras!
E por falar em Felgueiras. O PS acha que as coisas estão bem assim. O desempregado não recusa. E, se recusa, aguenta! Vai para a “forca” de ficar sem subsídio. Se for um dos “boys” do partido, pode ir comer à cantina da sede do Largo do Rato até ser colocado num cargo público.
O PCP faria com que o desempregado desse entrada imediata na função pública. Seria logo inscrito na CGTP, aumentado após 15 dias, e subiria automaticamente de escalão ao fim de um quarto de hora de estar ao serviço. No dia seguinte estaria de greve.
Pelo menos até ser introduzida a reforma agrária. Nessa altura todos os despregados terão trabalho nas terras do povo, comem na casa do povo e o Estado dá uma cama em quartos de 30 pessoas e um carro ao fim de 90 anos de trabalho para o partido.
Se for um bom comunista, ganha a possibilidade de ter umas férias a construir habitações sociais em Cuba, acção que teria o nome de “Viagem 25 de Abril além fronteiras”.
Em troca não poderão nem votar, nem ter dinheiro, nem beber refrigerantes americanos.
O Bloco de Esquerda defenderia que, o desempregado deveria poder recusar todos os trabalhos se completasse os seguintes pontos: fosse votar a favor da liberalização do aborto; provasse que na primeira oferta batia ao patrão sem razão aparente; nunca fosse à missa da igreja católica; entrasse no Lux, sem pagar.
O Partido da Nova Democracia não teria nenhuma ideia. Afinal, o próprio líder do Partido está tecnicamente desempregado há anos, e não tem solução à vista.
O PNR diz que não tomava qualquer atitude porque, se estivesse no poder, os emigrantes iam todos a “andar” daqui para fora e já havia emprego para toda a gente! Os que sobrassem, eram integrados na “Nova Mocidade Portuguesa”.
Os outros partidos não foram ouvidos nesta matéria porque toda a gente sabe que só existem para dar mais cor aos boletins de voto.
Por isso já sabe! Se estiver desempregado, ou se suicida, ou vai ao tribunal penal do IEFP.
A escolha é sua, seu calão!